Wednesday, July 26, 2006

Apressados mas felizes

"Por uma sondagem sobre hábitos sexuais, realizada em 40 países diferentes, a cerca de 40 mil homens (tanto homem, meu Deus!), e de que Rute Araújo dá uma detalhada descrição nas páginas do DN, verificamos que os portugueses detêm o recorde que não é demasiado simpático. São os principais adeptos de relações sexuais de uma só noite. Na fidelidade, os mais avançados são os polacos e os alemães.
e
e
e
Em termos de criatividade, os húngaros são verdadeiramente exemplares. E quanto à duração, os pobres portugueses ( e sobretudo as pobres portuguesas...) encontram-se muito atrás dos lentos, mas eficazes mexicanos. Que tristeza! Ao menos, numa só noite podiam dar-se ao luxo de ser mais lentos. Mas, segundo uma sondagem portuguesa, o tempo que em média os homens portugueses dedicavam a esta matéria, caso a caso, claro, andava pelos 19 minutos (o que é manifestamente pouco, embora as mulheres chegassem à média de 21 minutos, o que nos dava a ideia de que durante mais de dois minutos ficavam entregues a si próprias).
e
e
e
É no domínio pela preferência por relações de uma só noite que somos de longe os melhores, com uma média de 81 por cento, quando a média mundial é de 59 por cento. Que nos faz ser tão apressados e voláteis? Penso que no fundo se trata de uma libertação sexual muito mal assimilada e incapaz de compreender o verdadeiro processo do prazer.
e
e
e
Isto confirma-se num terrível pormenor ( que poderíamos dizer que marca todo um estado civilizacional e é um autêntico pormaior). Os premilinares são extremamente curtos em Portugal: em média 16 minutos, quando os mexicanos vão até 23 minutos. E, em termos de posições , temos uma pobreza franciscana ( se assim me posso exprimir sem excessiva heresia). Os húngaros têm uma média de oito posições por relação sexual (o que envolve algumas leituras prévias), enquanto os argentinos, povo em que os próprios motoristas de táxi discutem Lacan, andam pelas seis posições. E nós, portugueses sem imaginação nem criatividade, vamos no máximo a quatro.
e
e
e

Também a pressa em questão não permite muitas variações. É claro que as férias, quer para homens ou mulheres, são a época propícia para as relações, até porque as nossas casas são muitíssimo frias e não tremendo dos pés à cabeça que se estabelece o clima mais favorável. Nesse ponto, as condições atmosféricas são, ao contrário do que pensam os turistas, verdadeiramente nefastas.
e
e
Agora, a triste verdade é que para nós, portugueses, temos uma sexualidade apressada e pouco atenta ao outro. Parece que um mínimo de continuidade afectiva nos está vedado. A afectividade que liga duas pessoas que se envolvem numa experiência sexual desaparece entre nós. Nem sequer cumplicidade. Apenas um encontro às cegas em demanda do melhor orgasmo. A ideia de a sexualidade poder começar muito antes de qualquer arranque para um orgasmo e a obsessão do orgasmo pode acabar com o prazer da duração nestas coisas. Temos ainda imenso a aprender."

Eduardo Prado Coelho in Público

( 26 Jul 06)

No comments: